Publicado em 29 março de 2019 às 18:28
Nota do Conselho Regional de Psicologia da Bahia (CRP-03) sobre a tragédia em
Suzano.
O Conselho Regional de Psicologia da Bahia (3a região), por meio da Comissão
de Educação, vem a público externar sua consternação e solidariedade a estudantes,
profissionais da educação, famílias de pessoas envolvidas e toda a população de Suzano,
diante do lamentável ataque ocorrido na Escola Estadual Professor Raul Brasil.
Acontecimentos como esses despertam na sociedade diversos sentimentos, dentre os
quais se destacam: impotência, medo, tristeza e ira, mas estes rapidamente se perdem
para o público em geral, permanecendo presentes nos corações de quem vivenciou a
tragédia de perto. Por isso se torna importante falar sobre e não deixar que o
esquecimento impossibilite a busca por soluções possíveis para evitar tragédias como
essa.
Felizmente esses casos não têm sido comuns no Brasil, todavia entre 2016 e
2019 temos visto um aumento substancial de acidentes ou ataques com arma de fogo
direcionados a um sujeito específico ou a coletivos. A Psicologia Escolar
compreendendo as realidades nos espaços educacionais por meio de uma perspectiva
pluralizada que capta a multideterminação dos fenômenos humanos e sociais, elucida
que não há causas únicas para acontecimentos do tipo, mas sim variáveis diversas que,
em conjunto, podem levar e têm levado a resultados desastrosos. Sabendo que o ser
humano – especialmente crianças e adolescente que se encontram em amplo processo de
desenvolvimento – se constituem por meio de suas realidades histórico-culturais e
sociais, e que a imitação ganha destaque, mormente em crianças menores, é necessário
desenvolver estratégias para a constituição de subjetividades saudáveis.
Desta forma, as vivências desses seres em formação devem ser mediadas através
do acesso a experiências afetivas e orientadoras, demarcadas tanto por práticas
prazerosas, quanto pelo estabelecimento de limites. Nossas crianças têm sido
submetidas constantemente a discursos de ódio, caracterizados por incitação à violência,
ao preconceito, demonização dos direitos humanos e, até mesmo, ao uso de armas de
fogo o que, não temos dúvida, pode repercutir negativamente na formação dessas
personalidades e influenciar, também negativamente, adolescentes que tenham
especificidades psíquicas mais vulneráveis.
Além disso, na atualidade temos nos deparado com a banalização de práticas de
violência como o bullying e com a naturalização desses fenômenos que ocorrem na
escola desconsiderando a dor do outro. Não obstante, tem se tornado cada vez mais
acentuada a desvalorização de professoras/es, resultando em afrontas alarmantes à
história da categoria e desrespeito ao trabalho que ela desenvolve por esse país ao longo
dos anos. Um evento como o ocorrido na Escola Estadual Raul Brasil desperta novos
olhares e falas, dentre eles o brado descabido do Senador Major Olimpo ao vislumbrar a
possibilidade de armamento a professoras(es) como ato resolutivo para tragédias como
estas.
Conhecendo e entendendo as realidades escolares e o desenvolvimento humano,
a Psicologia como ciência e profissão nos seus mais variados postulados teóricos é
enfática em ponderar que essa não é a solução. Facilitar o acesso a armas para a
população em geral, incluindo nossas crianças e adolescentes, que facilmente
acessariam/acessam as armas de fogo que os pais têm em casa, pode inclusive tornar-se
causa de desastres como esse. Temos total certeza de que o caminho é construir
políticas públicas que permitam lidar com as especificidades dos contextos escolares,
promovendo o respeito, a tolerância, combatendo a violência, a discriminação, o
preconceito, desenvolvendo práticas colaborativas, contextualizadas, valorizando
professoras e trabalhando junto às famílias.
Para nós, só é possível pensar num campo propositivo que objetive armar
professores, se as armas mencionadas se referirem a condições concretas e facilitadoras
no seu exercício profissional, desde estruturas físicas, materiais de trabalho, carga
horária, remuneração e políticas públicas eficazes de cuidado à saúde do docente. Estas
são as armas necessárias ao trabalho da docência, para que os conhecimentos
historicamente construídos pela humanidade se tornem munição ao serem socializados,
objetivo primordial do processo educacional.
O PL 3688/2000 que trata da inserção de psicólogas/os e assistentes sociais no
contexto educacional tramita há 19 anos. A atuação de psicólogas/os escolares visa
promover uma profunda mudança na condução da realidade educacional, podendo gerar
impacto positivo nos níveis intrapsíquico, interpessoais, cognitivos, familiares,
comunitários e sociais, com desenvolvimento de práticas preventivas e de promoção da
saúde biopsicossocial. É passado o momento de rever essas lacunas, tratando
estudantes, profissionais da educação e famílias com o devido respeito, cuidando das
subjetividades envolvidas na construção dessa complexa teia em que nos fazemos
humanas/os.
O Conselho Regional de Psicologia da Bahia (3a região) reafirma seu
compromisso com as realidades escolares e sociais e com a promoção irrestrita dos
Direitos Humanos, elucidando que a Psicologia como ciência e profissão tem muito a
oferecer ante ao enfrentamento de problemáticas diversas, vislumbrando a construção
de uma sociedade mais justa e igualitária.
- Link da fonte utilizada com a declaração do Major
https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/03/major-olimpio-diz-que-tragedia-
em-suzano-seria-evitada-se-professores-estivessem-armados.shtml
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